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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

CAPITULO 24





João chegou e cumprimentou toda a galera da banda. Todos estavam felizes por estarem de volta ao Brasil. Júlia parecia muito feliz ao vê-lo.
  ---João. Quanto tempo, não?!
  ---pois eeh. Você sumiu.
  ---vida de estrela é assim mesmo queridinho! – disse ela fazendo pose de bitch.
  ---seu namorado é ciumento. É melhor você desgrudar de mim.
  ---ele nem liga, não é amor?! – foi até Zac e lhe deu um selinho, e depois outro, e depois outro, até que João interrompeu:
  ---então casal, eu sei que vocês se amam, mas será que dá aguentar um pouquinho?!
  ---da sim Joaquim.
  ---eu já disse o que faria com você caso me chamasse assim novamente, não disse?!
  ---que historia é essa de Joaquim? – perguntou Zac confuso.
  ---depois eu te explico amor...
  ---Ike, que saudade.
  ---pois eeh. Como vai a vida de estudante?
  ---pra falar bem a verdade está indo até bem. Sou o melhor aluno em anatomia. – Júlia torceu o nariz. – é muito bom estudar minuciosamente os órgãos dos animais.
  ---se eu vomitar aqui nós já sabemos quem é que vai limpar néeh João?!
  ---eu sei. Só falei pra te provocar. Mas está muito boa Ike. E a sua vida de rockstar?
  ---está indo, na medida do possível. – João percebeu a decepção na resposta de Ike, mas preferiu conversar sobre isso depois.
  ---e você Carol?! Como foi a academia?
  ---que academia?
  ---taah Carol, para de fingir, eu falei pra ele que você passaria o tempo todo na academia se deixassem.
  ---isso não é verdade. Você sabe como fico animada pra ir à academia!
  ---aah oi Taylor.
Taylor, educado como era não respondeu!
Depois que todos subiram e deixaram as malas nos devidos quartos e desceram novamente, foram para a piscina relaxar.

  ---nossa às vezes me esqueço de como uma piscina é relaxante! – disse Júlia pulando na água e molhando todo mundo.
Passaram a tarde inteira brincando. Não teria compromissos até o dia seguinte, quando deveriam acertar os últimos detalhes para o show. O clima estava insuportável entre Alice e Taylor com os demais membros da banda. Zac, Júlia, Ike e Carol mantiveram-se firmes enquanto o furacão Alice atravessou a banda.
Júlia e João conversaram a tarde inteira.
À noite, durante o jantar, todos conversavam e comiam. Alice apenas mexia a comida com o garfo, até que Joana a questionou.
  ---a comida não está boa Alice? – Alice não disse nada. – Alice, está tudo bem? – silencio novamente. – Alice.
  ---oi. – ela respondeu como se estivesse voltando de uma longa e intensa viagem por seus pensamentos.
  ---e então?!
  ---eer, bem, eu acho que sim! – disse ela sem ter a mínima noção do que Joana lhe tinha perguntado.
  ---eu pedi se a comida estava boa!
  ---está com uma cara ótima, mas eu não estou com fome. Desculpa. Com licença. Preciso subir.
Alice saiu da mesa e Taylor foi atrás dela imediatamente.
  ---o que está acontecendo com você Alice?!
  ---o que está acontecendo comigo?! Nada. Está tudo perfeitamente bem. – disse Alice visivelmente irritada.
  ---você está estranha comigo ultimamente. Foge de mim quando tento te beijar...
  ---já passou pela sua cabeça que talvez eu tenha nojo de você?
  ---o que você está falando? É aquele caipira outra vez? Ele vai estragar o nosso amor novamente?
  ---que amor? Você chama isso que se tornou nosso relacionamento de amor?! Se isso é amor eu dispenso!
  ---você está sendo muito insensível.
  ---aah desculpa. Esqueci que você é o senhor sensibilidade. Quer saber Taylor?! Me esquece. Finge que eu nunca existi na sua vida. Creio que não será nada difícil!
  ---você não está sendo justa. Eu te amo.
  ---NUN-CA mais repita essas palavras pra mim. Quer falar “eu te amo” fala, mas pelo menos sinta antes de dize-lo!
  ---eu não estou te entendendo.
  ---na verdade não é mesmo pra entender. – Alice, que já tinha chegado na porta do quarto entrou e bateu a porta com muita força, na cara de Taylor. Dando-se por derrotado Taylor voltou à mesa.
  ---desculpem, precisava falar com ela.
  ---aconteceu alguma coisa? – perguntou Ike.
  ---nada que o Tayzão aqui não resolva. – disse ele fazendo pose de gostoso e provocando João.
  ---éeh, nós pudemos ouvir a porta fechando na sua cara! – disse Júlia provocando.

Isso acabou com o clima do jantar. Carol terminou rapidamente de jantar e foi até o quarto de Alice.
  ---precisamos acertar alguns detalhes!
  ---sim. Precisamos!
Conversaram por quase uma hora até que Júlia as interrompeu. Ao entrar no quarto de Alice, Júlia respirou fundo, como se sentisse muita saudade daquele quarto. Havia fotos de Luna espalhadas por todos os cantos.
  ---desculpem-me por incomoda-las, mas faremos uma sessão de cinema lá embaixo. Não querem nos acompanhar?!
  ---estou descendo, Júlia. – disse Carol indo em direção à porta.
  ---acho que vou ficar por aqui mesmo.

Já era madrugada quando a casa finalmente silenciou. Alice resolveu então fazer o que mais gostava de fazer quando estava triste: ir até a piscina, sentar-se em uma das cadeiras e admirar o céu estrelado.
A noite estava iluminada e convidativa para isso. Alice acreditou que todos estariam dormindo, então relaxou.
  ---você costumava ser mais educada quando morava na fazenda!
O coração de Alice disparou. Ela conhecia a voz que falava isso.
  ---o que você está fazendo aqui, João?
  ---esperando você! Tenho certeza de que você pensou isso. Mas está enganada!
  ---sua namorada sabe que você está aqui?
  ---que namorada?
  ---fui informada há algumas semanas atrás que você estaria namorando...
  ---e você deixaria eu seguir em frente? Sem nem ao menos lutar por mim?!
  ---a vida é sua! E a escolha também!
  ---você não muda mesmo não é garota?
  ---você ainda não respondeu o que está fazendo aqui fora.
  ---quando não consigo dormir, preciso sair e respirar ar puro pra daí conseguir dormir, mas estando em uma cidade grande isso se torna quase impossível, porque o ar daqui nunca é limpo! – Alice esboçou um simples sorriso no rosto, e isso acabou sendo uma deixa para que João prosseguisse. – está tudo bem?
  ---não sei.
  ---como não sabe?
  ---sei lá, é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Nada saiu da forma como eu esperava.
  ---ainda não entendo.
  ---a banda, minhas amizades, e, outras coisas também.
  ---a Júlia sente muito sua falta.
  ---aah é?! Não, porque, não parece. Ela está sempre sorrindo pra todos os cantos...
  ---já se passou pela sua cabeça de que a diferença entre a Júlia e você seja que ela é forte?
  ---eu também sou forte!
  ---não falo de força física, eu falo que mesmo com todos os motivos pra chorar, ela ainda sorri! Tornamos-nos melhores amigos durante essa turnê.
  ---eeh, eu fiquei sabendo que vocês conversaram bastante, mas apenas isso.
  ---você nunca perguntou a ela sobre o que conversávamos?
  ---às vezes – Alice pensou em mencionar as vezes que havia ouvido a conversa deles escondida–, quer dizer, não!
  ---e por que não? Se no fundo era exatamente isso que você queria fazer? Por que você não pegou o telefone e me ligou?
  ---João, eu já superei isso e acho que você também. Eu já sofri muito por sua causa. Não preciso de mais um problema pra minha cabeça!
  ---você acha que é só você que tem sentimento não é mesmo Alice?!
  ---João, por favor. Eu já tenho problemas demais. Não me fale mais nada, porque eu não vou aguentar. – ele pode perceber o desespero na resposta de Alice.
  ---não estou estudando psicologia, mas a sua resposta, seus gestos e seu olhar imploram que eu faça isso. Entenda como sendo um ato de amigos.

Antes que Alice pudesse reagir João a abraçou forte. Eles se encaixavam perfeitamente. Alice desabou chorar. João acariciava os cabelos dela, como se fossem irmãos. Ele sentia seu coração aos pedaços ao vê-la chorando daquele jeito e não poder fazer nada.
João compreendeu que aquele momento não necessitava de palavras, o abraço já se encarregava de tudo. Quando Alice se acalmou e se soltou dos braços dele, tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu.
  ---suba descansar Alice. Deve ter sido puxado aguentar essa turnê inteira.
  ---você não imagina o quanto.
  ---dorme um pouco que é a melhor coisa que você conseguirá fazer.
  ---dormir é a ultima coisa que conseguirei fazer!
  ---e por quê? O que está afligindo seu coração?
Lagrimas rolaram dos olhos de Alice e ela não conseguiu responder. Apenas sentou-se na cadeira e disse:
  ---ainda dói muito João. Mas dói muito mesmo. Eu a perdi! Pra sempre! – João não entendia nada e compreendeu que ela não conseguiria explicar o que se tratava. Chegou perto dela e ajoelhou no chão.
  ---não se esqueça de que somos irmãos, e que irmãos contam tudo um pro outro!
Deu um beijo na testa de Alice e subiu pro quarto. Alice ainda ficou por um bom tempo perdida em seus pensamentos e afogando-se em suas lagrimas até que foi dormir também.
Ao amanhecer, um a um foi levantando e dirigindo-se ao café da manha. Uma cara pior que a outra.
  ---nossa Júlia, você dormiu no cemitério essa noite? – perguntou João.
  ---não por quê?!
  ---porque você está parecendo um zumbi. – respondeu Carol!
  ---dormimos juntas lá então ne amiga?!
  ---minhas olheiras estão enormes! Eu to muito cansada. Não vejo a hora de essa turnê terminar. – disse Carol.
  ---eu também estou cansado. Muito cansado. E morrendo de saudade dos meus pais! – disse Ike.
Alice chegou ao recinto e o silencio juntamente com ela. Estava vestida inteiramente de preto e sua maquiagem camuflava as olheiras.
  ---não sei a hora que eu volto!
  ---aonde você vai meu amor? Eu vou com você seja lá onde for – disse Taylor.
  ---você vai pro diabo que o carregue. Eu vou sozinha! Já sei me virar. Esqueceu senhor independente?! – todos seguraram o riso. João já estava ficando roxo até que Júlia pisou em seu pé e ele se acalmou.
  ---você tem uma entrevista daqui a meia hora Alice. E antes dessa entrevista você não sai daqui! – disse Clarisse na maior calma do mundo.
  ---quebra esse galho pra mim?!
  ---já quebrei muitos galhos por você nessa turnê. Você vai dar a entrevista.

Alice bufou e subiu para o quarto. A entrevista seria para uma importante revista adolescente. Alice procurou manter a calma durante as perguntas, mas recusou mudar sua pose para as fotos. Assim que o fotografo a liberou ela foi direto a uma floricultura.
Cerca de uma hora depois ela estava no lugar que marcava duas fases de sua vida: o fim e o recomeço!
Sim, ela estaria diante do tumulo de Luna. Faria dois anos que Luna salvara sua vida. Com um lindo buquê de rosas nas mãos, velas e com um óculos escuro protegendo os olhos Alice se aproximou do tumulo.
Alice tirou o óculos, leu o nome da amiga e começou a chorar.
  ---por que tinha que ser assim? Seria tudo tão mais fácil se eu tivesse morrido. Meus pais já estariam separados, você estaria sendo feliz com sua família, eu não teria conhecido, namorado e odiado Taylor Hanson. Eu não teria sofrido tudo o que sofri nessa turnê que não deu em nada. Não acrescentou em nada na minha vida isso. Eu não teria chorado tudo o que chorei por sua causa. – Alice chorava muito e soluçava alto. – Por quê?! Eu que tinha que ter morrido. Foi por minha causa que você morreu! –Caiu de joelhos no chão ao terminar de falar isso. – como eu queria voltar no passado e levar aquele tiro por você!
Alice ficou em silencio por um tempo. As lembranças dos momentos horríveis que passou nas mãos dos seqüestradores, o momento em que o tiro atingiu Luna, o velório, o enterro... Era demais pra Alice. Quando finalmente se acalmou, continuou:
  ---desde que você se foi não temos conversado muito não é mesmo?! – Alice contou detalhes da turnê para Luna. Contou sobre os problemas com Júlia, com Carol, com Taylor, com João e então ela se deu conta que talvez o problema não estivesse neles, e sim nela!
Olhando a cena de longe, poderiam dizer que Alice havia enlouquecido, mas só ela sabia o quanto precisava daquilo. Ela precisava desabafar. De certa forma ela sentia como se Luna estivesse à sua frente, escutando atenciosamente tudo o que ela falava.
Alice ficou cerca de duas horas na sepultura de Luna. Antes de sair ela fez uma pausa, respirou fundo e disse:
  ---eu te amo muito amiga e obrigado por ter estado comigo em todos os shows dessa turnê! Se eu cantar no show dessa noite, farei uma homenagem a você!
Depositou finalmente as flores lá, acendeu sua ultima vela e saiu aliviada, porem, com o coração apertado ainda.

Desde o dia do enterro Alice não tinha mais visto os pais de Luna. Decidiu que já era hora de ir vê-los, afinal também não fora fácil superar a perda de Luna. Quase duas horas da tarde e Alice estaciona seu carro frente ao portão da casa de Luna. Não tinha certeza se estava psicologicamente preparada pra tanto, mas algo dentro dela dizia que deveria entrar.
Tocou a campainha três vezes até o portão se abrir. A empregada da casa a anunciou e ela entrou.
  ---Alice, quanto tempo! – disse a mãe de Luna.
Desde o enterro de Luna Alice não a via. Ela estava muito diferente. Já era possível ver fios brancos no meio dos cabelos escuros. Os olhos profundos indicavam que realmente não fora fácil aceitar a perda da filha. Fotos de Luna estavam por todos os lados.
  ---nem me fala. – elas se abraçaram e choraram juntas.
  ---eu achei que você ia nos esquecer.
  ---eu jamais faria uma coisa dessas.
  ---então por que você demorou tanto para nos visitar?
  ---porque eu não estava preparada para entrar aqui nessa casa novamente, e pra ser sincera ainda não estou. Ainda me pergunto o que é que estou fazendo aqui!
  ---fico feliz que você tenha vindo. O dia de hoje é muito difícil pra mim e para o meu marido. Desde que ela se foi é como se essa casa tivesse se tornado um castelo: grande e vazio! Luna levou com ela a alegria de nossa vida. Não foi nada fácil no começo, mas depois começamos a nos acostumar. Fomos obrigados a isso, ou então enlouqueceríamos! Você já foi ao cemitério?
  ---acabei de sair de lá. Passei um bom tempo com ela. Estava precisando disso. Desde que ela se foi um pedaço de mim também morreu, mas encontrei na musica uma forma de continuar minha vida. Acho que vocês ficaram sabendo que minha banda esteve fazendo uma turnê mundial, não?!
  ---sim. Nós víamos você dando entrevistas e ficamos felizes por ver que você havia superado a perda dela.
  ---não, eu nunca superei. Eu finjo estar alegre na maior parte do tempo, porque também sinto muito a falta dela.
  ---sente-se Alice. Vamos conversar.

Alice conversou muito com ela. Alice pode então perceber o quão difícil foram às coisas para ambos os lados. Quando disse que iria embora a mãe de Luna lhe falou:
  ---Alice, espera. Antes de você ir embora eu queria que você me acompanhasse.
A mãe de Luna levou Alice até o quarto de Luna.
  ---não sei se eu consigo entrar no quarto dela.
  ---entre, por favor. Tem algo que eu quero que você veja.

Alice assentiu. Respirou fundo, juntou todas as forças que possuía e entrou. O quarto de Luna estava da forma como Alice se recordava. Tudo bem organizado e por um instante lembrou-se de seu quarto, sempre uma bagunça, e de como Luna implicava com ela por isso. Sobre a cama de Luna havia algo que parecia um diário. A mãe de Luna percebeu que Alice o notara e disse:
  ---alguns meses depois que ela se foi, quando eu consegui criar coragem pra entrar no quarto dela novamente, eu encontrei isso aberto na cama dela. Percebi que era um diário e comecei a lê-lo; sei que não deveria, pois eram segredos dela, mas, percebi que ela queria que eu lesse. Ela deixou um recado pra você ai dentro. Eu iria te entregar, mas a coragem para revê-la me faltava, e então, hoje, eu estava disposta a levá-lo na sua casa, mas você veio aqui. Então, leve-o, mas cuide muito bem dele, porque é um pedaço da minha filha que estou te entregando.
Alice tinha os olhos molhados de lagrimas, mas o pegou nas mãos e agradeceu. Olhou novamente o quarto e reviveu alguns momentos. Ao sair da casa deixou dois ingressos do show de logo mais para a mãe de Luna.
Alice precisava passar em um lugar ainda, e só então sentir-se-ia mais leve.
Cerca de meia hora depois estava sentada no balanço do bosque em que conhecera Luna. Finalmente tomou coragem para ler o que estava escrito no diário. Nem se deu conta de que já eram quase seis horas da tarde e que o show começaria em pouco mais de duas horas.
Seu celular começou a tocar, mas ela simplesmente o ignorou. Arrumou o cabelo e abriu o diário.
“Hoje a Alice me divertiu muito. Às vezes eu penso que ela é um anjo. Espero um dia poder retribuir tudo o que ela me faz. Quando estávamos sentadas no balanço e meu sorvete caiu, ela me deu o dela! Que fofa”.

“Hoje a Alice fez cócegas em mim até eu fazer xixi nas calças. E o garoto mais bonito do bosque viu! Eu vou matar ela!” 

“hoje minha mãe brigou comigo. Ela disse que eu não faço nada certo. Eu contei pra Alice e quando perguntei o que eu tinha feito de errado ela disse que eu tinha nascido. Juro que eu quis quebrar o nariz dela quando ela me disse isso!”

Alice continuou lendo. Chorava ao relembrar as cenas. Provavelmente o diário começara a ser escrito quando elas tinham cerca de onze anos. Em breves comentários Luna resumia o que acontecera de marcante no dia. Alice foi lendo tudo, até que achou o que estava escrito no dia do aniversário em que Luna lhe preparara a festa surpresa.

“Hoje eu enganei a Alice direitinho. Eu a fiz pensar que eu tinha me esquecido do aniversário dela e a deixei sozinha a tarde inteira. Como eu a conheço muito bem e sabia que ela ficaria trancada no quarto o dia inteiro, organizei uma festa pra ela. Tentei falar com os pais dela, mas os trezentos assessores que me atenderam disseram que eles estavam ocupados demais. Eu acho que ela é uma menina preciosa demais pra ser tratada desse jeito. A mãe da Alice é neurótica e brigou com ela por causa de uma flor! Se ela descobrisse o que eu faço com as flores da minha mãe... nunca vou me esquecer da carinha de felicidade da Alice ao me ver chegando lá com a galera. Eis um dia que vai ficar pra sempre na minha cabeça.”

Alice começou a soluçar ao reviver esse dia de sua vida. Realmente Luna a conhecia muito bem! Já estava quase chegando ao fim do diário quando encontrou o que a mãe de Luna provavelmente queria que ela lesse.

“Hoje eu tentei dizer à Alice o quanto eu a amava, mas eu não consegui. Fiquei o dia inteiro com ela, tentei, tentei e não deu certo. Fiquei muito triste, porque ela é maravilhosa e merece ouvir isso. Eu a amo tanto que morro de medo de perdê-la, mas caso isso aconteça eu queria que ela soubesse que eu a amo muito. Queria que ela soubesse que é a irmã que eu não tive e que eu nunca a abandonarei. Ela vai comigo aonde eu vou. A Alice merece tudo de bom. Ela erra as vezes, mas somos humanos. Aprendi que sempre devemos dar uma segunda chance às pessoas, porque talvez elas saibam aproveita-las melhor do que na primeira vez. Pra Alice eu daria um milhão de chances se fosse preciso. Espero que eu tenha uma segunda chance para tentar dizer tudo isso à ela. Mas caso eu não tenha essa chance, eu sei que ela vai ficar sabendo de uma forma ou de outra. Eu a amo muito e quero que ela seja muito feliz. E se por acaso nossa amizade não durar pra sempre e ela seguir o caminho dela eu entenderei. Tudo o que é bom dura o suficiente para ser inesquecível!
PS: praticando: Alice, eu te amo muito. Você é uma irmã pra mim. Te amo BESTinha
PS2: tentar falar isso a ela!”

Alice fechou bruscamente o diário, como se quisesse controlar o turbilhão de emoções que a atingia. Sentiu como se seu coração estivesse todo quebrado no chão e alguém ainda pisasse sobre ele. A vontade que tinha era a de voltar no tumulo de Luna, e  já que não poderia mais abraçá-la e dizer isso pessoalmente, pelo menos dizer isso diante do lugar onde estavam enterrados todos os seus sonhos e planos... Porem abriu o colar de coração com a foto delas e disse:
  ---eu sempre soube que você me amava, e eu também te amava. E muito... Minha irmã!

Enquanto Alice chorava e tentava se auto-consolar, Júlia já estava desesperada ligando no celular dela. Ike chegou e perguntou:
  ---nada da Alice ainda?
  ---não. O celular dela chama até cair e ela não me atende. Ela saiu logo depois da entrevista, não disse aonde ia e nem que horas voltava. O show começa daqui a pouco e ela tem que se arrumar! 
  ---você não tem nem uma idéia de onde ela possa estar?
  ---não. Ela geralmente não diz aonde vai...
  ---ela estava bem emotiva ontem à noite quando a vi – disse João. – ela meio que segurava um colar na mão e chorava.
  ---infelizmente isso não ajuda João! – disse Ike preocupado.
  ---espera. O colar era de coração, certo? – João assentiu – um calendário. Que dia é hoje? – Júlia achou o calendário mais próximo e falou – eu preciso de alguém que saiba me levar ao cemitério da cidade!
  ---Júlia, isso é hora de se pensar em cemitério? Você já está quase pronta pra subir no palco, não pode sair desse jeito.
  ---eu sei que estou parecendo a dona Florinda, mas é pelo bem da banda. Eu preciso ir até o cemitério. Se não estou enganada hoje faz dois anos que a Luna, amiga da Alice morreu. Ela só pode estar no cemitério. Isso explicaria o fato de ela estar toda de preto!
  ---eu dirijo. – disse Ike. – mas precisamos ser muito rápidos. Avisa a galera pra segurarem as pontas por aqui.
  ---eu vou com vocês. – disse João.

Correram para o carro e praticamente voaram em direção ao cemitério. Chegaram lá e não viram o carro de Alice. Ike imediatamente falou:
  ---ela não está aqui Júlia. Seu raciocínio foi bom, mas nos trouxe para o lugar errado. Ela não está aqui. Talvez ela já tenha até voltado lá pro estádio.
  ---não. Não faz sentido. Pensa Júlia, pensa. Onde a Alice poderia estar? Ela não está no cemitério, ela não está em casa e ela não está no estádio. Um lugar que a marcou muito. Ai meu Deus. Espera, acho que eu já sei. Vai pro bosque.
  ---que bosque?
  ---vai indo que eu te indico o caminho.
Ao chegarem ao bosque Júlia imediatamente gritou:
  ---olha o carro dela ali. Eu vou procurar ela.
  ---eu vou com você Júlia.
  ---acho melhor não João.
  ---eu vou sim.
  ---eu também vou – disse Ike.

Foram direto em direção ao parquinho, porque Júlia falou que pessoas carentes, por clichê ou não, procuram brinquedos pra se confortarem. A encontraram rapidinho.
  ---Alice. Que bom que te achamos – disse Júlia abraçando-a – o que aconteceu? Você está chorando. – Alice começou a chorar novamente.
  ---amiga nós temos um show daqui a pouco menos de uma hora. Você precisa vir conosco.
  ---eu não sei se posso.
  ---nós temos uma surpresa preparada pra você! Venha com a gente.
  ---eu não vou conseguir.
  ---Alice, nós estamos com você! Lembra que somos irmãos. Sei que não sou da banda, mas sinto como se eu fosse! Nós não vamos te forçar a nada. Apenas saiba que te amamos acima de tudo! – disse João.
  ---nós vamos voltar porque o show tem que começar. Se você se sentir bem o suficiente, venha conosco!
Abraçaram-na e foram para o carro.
  ---que surpresa nós temos pra ela Júlia?
  ---ainda não temos. Precisamos passar na casa dela. Eu preciso pegar o notebook dela.
Chegaram ao estádio novamente faltando apenas quinze minutos para o show começar. Carol já estava em pânico achando que não daria tempo. Faltando cinco minutos para subirem ao palco Alice ainda não estava lá com eles. Júlia então chegou para Carol e disse:
  ---bem, como esse é o nosso ultimo show podemos mudar o set-list. Você vai ter que começar cantando. Você é a estrela agora!
  ---mas eu não sei se estou preparada!
  ---você está esperando isso desde que começamos a turnê. Aproveite!

Subiram no palco sem Alice. Taylor estava ansioso demais para se preocupar com alguma coisa. Surpresas o aguardavam e ele nem sonhava com isso!
A musica começou e Alice não chegou. Todos acharam que ela faria uma entrada triunfal, igual havia feito no primeiro show, mas ela não a fez. Terminaram a primeira musica e saíram do palco. Foram obrigados a adiantar o momento solo de Zac. Quando ele estava na metade da musica, eles já tinham a certeza de que Alice não chegaria, porem João disse:
  ---eu a conheço. Ela vai aparecer a qualquer momento.
O momento solo de Zac já havia terminado e todos estavam se dirigindo ao palco novamente, quando João avisa para que eles enrolassem a galera um pouquinho. Para a surpresa dos desacreditados, Alice apareceu, com os olhos inchados, pegou o violão que João segurava e subiu no palco, conectou o cabo que vinha da caixa de som no violão. Era difícil entender o que se passava na cabeça dela, mas uma coisa era certa: surpresas a vista!
Alice começou cantando uma versão acústica de “I’m With You – Avril Lavigne”

 

Eu Estou Com Você

Estou parada em uma ponte
Estou esperando no escuro
Eu pensei que você estaria aqui agora
Não há nada exceto a chuva
Sem pegadas no chão
Estou ouvindo mas não há som

Há alguém tentando me encontrar?
Alguém virá me levar para casa?

É uma maldita noite fria
Tentando entender essa vida
Você não vai me levar pela mão?
Leve-me para algum lugar novo
Eu não sei quem você é
Mas eu... Eu estou com você
Eu estou com você

Estou procurando um lugar
Estou procurando um rosto
Há alguém aqui que eu conheça?
Porque nada está dando certo
E tudo está uma bagunça
E ninguém gosta de ficar sozinho

Há alguém tentando me encontrar?
Alguém virá me levar para casa?

Está uma maldita noite fria
Tentando entender essa vida
Você não vai me levar pela mão?
Leve-me para algum lugar novo
Eu não sei quem você é
Mas eu...eu estou com você
Eu estou com você
Yeah, Yeah, Oh...

Oh por que tudo está tão confuso?
Talvez eu esteja fora de mim
Yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah
Yeah yeah yeah yeeeaaahhh

Está uma maldita noite fria
Tentando entender essa vida
Você não vai me levar pela mão?
Leve-me para algum lugar novo
Eu não sei quem você é
Mas eu...eu estou com você
Eu estou com você
Eu estou com você

Vai me levar pela mão ?
Leve-me para algum lugar novo
Eu não sei quem você é
Mas eu...eu estou com você
Eu estou com você
Eu estou com você

Vai me levar pela mão?
Leve-me para algum lugar novo
Eu não sei quem você é
Mas eu...Eu estou com você
Eu estou com você
Eu estou com você

Ao terminar a musica, a platéia aplaudiu em pé. Pra eles tudo estava devidamente combinado! Alice terminou de cantar essa musica e saiu do palco. Era o momento solo de Ike. Todos os solos foram adiantados pra que a grande surpresa tivesse um destaque maior!
Alice esperava por Carol em seu camarim. Já estava quase pronta quando Carol entrou.
  ---o Taylor atendeu alguma ligação antes do show Carol?
  ---sim. Mas não consegui ouvir do que se tratava.
  ---com certeza era daquilo que te falei. E então, está preparada? Seu solo é daqui a pouco.
  ---sim, quer dizer, eu acho.
Alice aproximou-se dela e pegou suas mãos e disse:
  ---bem, novamente quero te pedir desculpas por ter te acusado e não poder provar. Espero que isso permita que eu me redima, porque a imprensa inteira pensa que a culpada é você!
  ---vai ser uma vingança à altura! – elas ouviram batidas na porta.
  ---ta todo mundo sabendo do esquema Carol?
  ---ta sim! Quando você chegou, eu confirmei tudo. Agora é só ele entrar e morder a isca!
Carol se escondeu e Alice se sentou sensualmente em sua cadeira.
  ---entra Taylor. 

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